segunda-feira, 31 de outubro de 2011

LUTERO, O CISNE ALEMÃO!

Judiclay S. Santos

Aos 22 anos de idade, o jovem Martinho Lutero entrou para o monastério de Erfurt. Dois anos depois, na ocasião da sua ordenação, nem Lutero nem qualquer outra pessoa sabia o que esse evento significaria para ele, para a igreja ou para o mundo.

O teólogo britânico, R. C. Sproul faz uma curiosa observação. Cem anos antes da ordenação de Lutero, o reformador da Boêmia, Jan Hus havia sido condenado à fogueira pelo famigerado Concílio de Constança (1415), sob a sentença de “pecado de heresia”. Hus teria dito ao bispo que ordenou a sua execução: “Você pode cozinhar este ganso, mas há de vir um cisne que não será silenciado”. Não era apenas um vaticínio, era um jogo de palavras. Seu nome, Hus, significa ganso na língua Tcheca.

Ao ser ordenado na capela agostiniana em Efurt, Lutero foi deitado com seus braços esticados na forma de cruz na base do altar da capela. Curiosamente, o lugar exato onde Lutero estava deitado, havia uma inscrição no piso de pedra que indica que abaixo do lugar estava sepultado o bispo que ordenara a execução de Jan Hus. Sproul confessa: “É uma grande tentação revisar a História e atribuir ao bispo uma resposta apropriada às palavras de Hus que um cisne surgiria. Gosto de pensar que o bispo respondeu: “Sobre meu cadáver!” De fato, foi sobre seu cadáver que o cisne foi ordenado”.

A Reforma eclodiu na Europa do século 16 por meio de uma conjugação de fatores. Embora tenha tido raízes e implicações políticas, econômicas e sociais, a Reforma foi essencialmente um movimento de retorno à sã doutrina, que propôs expurgar da Igreja doutrinas e práticas contrárias à fé cristã. O fato mais surpreendente é que a Reforma, ansiosamente desejada por muitos, teve o seu marco inicial com o protesto de um anônimo monge agostiniano numa pequena cidade com aproximadamente 3.500 habitantes. Lutero era apenas um ilustre desconhecido na insignificante cidade alemã de Wintemberg.

Graças à sábia providência divina, a Reforma avançou e redesenhou o mundo. O Senhor da Igreja age conforme o conselho de sua soberana vontade e usa os meios necessários para realizar os seus propósitos e manter o seu programa redentor. Lutero reconhece ter sido um vaso de barro. Não obstante as suas fraquezas, Deus o usou para edificar a Igreja do Senhor Jesus. “Não fiz nada. A palavra fez e realizou tudo”, disse o reformador.

Somos gratos a Deus pela vida de Lutero, pois embora tenha sido tão pecador quanto nós, foi um importante instrumento nas mãos do Senhor para promover o evangelho de Jesus Cristo.


REFORMA PROTESTANTE!


Atualmente é cada vez mais raro encontrar um cristão evangélico que conheça, de fato, a Reforma Protestante. A maioria não tem idéia do real significado da Reforma, simbolicamente memorada no dia 31 de Outubro. O teólogo luterano, Gottfried Brakemeier, nos diz que o “Dia da Reforma” é um dia comemorativo e programático. “Comemorativo, porque há uma história que precisa ser lembrada, e que apesar, de todos os seus descaminhos, possui aspectos instrutivos e não deixa de ser motivo de gratidão. Programático, porque deve estar na agenda da igreja como uma lembrança de uma urgência atual, que nos conclama à ação”.

A Reforma foi um movimento de retorno à sã doutrina, que propôs expurgar da igreja os ensinos e as práticas contrárias à Palavra de Deus. Embora tenha tido raízes e implicações políticas, econômicas e sociais, a Reforma foi essencialmente um movimento religioso. Longe de postular uma visão romanceada da Reforma, devemos reconhecer a sua enorme contribuição para a Igreja e para o mundo.

QUE CONTRIBUIÇÃO UM MOVIMENTO QUE ACONTECEU HÁ QUASE 500 ANOS PODE OFERECER A IGREJA DO SÉCULO XXI?

Nos séculos subseqüentes à Reforma até hoje, houve muitas mudanças no mundo, boas e ruins, grandes e pequenas. Mas quanto à condição moral espiritual e a corrupção doutrinária, a similaridade é impressionante. Na Idade Média, o culto às relíquias e outros elementos como meio de graça cresceu e tomou proporções incríveis. “Era possível comprar cera dos ouvidos e leite da Virgem Maria, estrume do burro do estábulo de Belém, fios de cabelo e da barba do Salvador” (Dreher). No Brasil do sincretismo religioso, floresce o misticismo pagão. Círculos que se dizem evangélicos são os primeiros a promover a Deforma da igreja, com seus ensinos e práticas estranhas à fé cristã. Hoje, os discípulos de Tetzel, o vendedor de indulgência do Papa Leão X, se multiplicam sonegando a graça que flui do Calvário.

A Reforma levantou cinco bandeiras que deveriam permanecer hasteadas em nossas igrejas como símbolos da fé evangélica. Os “cinco solas” da Reforma (Sola é um termo latino que significa somente) sintetizam as batalhas travadas pelos reformadores em favor do evangelho.

1. Sola Scriptura – Somente as Escrituras – Os reformadores reafirmaram a supremacia das Escrituras sobre a tradição. A Bíblia é a única regra de fé e prática. Nenhum dogma ou experiência pode ser aceito se não tiver base na Palavra de Deus. A Bíblia tem sofrido um duplo atentado. Há aqueles que tentam adicionar supostas novas revelações e há outros que de modo igualmente insano tentam fazer subtrações. O princípio Sola Scriptura é uma declaração da inspiração, autoridade, inerrância e suficiência das Sagradas Escrituras.

2. Solo Christus – Somente Cristo – A Reforma questionou a autoridade do papa sobre a Igreja e ousadamente declarou que nenhum homem pode substituir o Deus-Homem. A doutrina apostólica proclama a supremacia de Cristo como o nosso suficiente Salvador, nosso único Mediador e nosso soberano Rei. A cruz de Jesus Cristo é o coração do evangelho.

3. Sola Gratia – Somente a Graça – Os reformadores reafirmaram a doutrina bíblica da salvação pela graça. Somos merecedores de juízo e condenação, mas Deus, que é rico em misericórdia, susta o castigo que merecíamos e nos dá, graciosamente, a salvação. Somos justificados pela graça mediante a fé. Diferente do conceito romano, a graça não é um pó mágico que nos ajuda a viver melhor para ser aceitos por Deus. A graça é o amor incondicional aos que não merecem nada. Cristo morreu a nossa morte para vivermos a sua vida. Isso é graça.

4. Sola Fide – Somente a Fé – Os reformadores proclamavam a supremacia da fé sobre as obras para a salvação. A salvação não é uma sinergia, como se houvesse alguma contribuição da parte do homem. A fé salvadora nunca é apresentada como algo inerente ao ser humano e de caráter meritório, mas sim como dom de Deus. A fé é o instrumento pelo qual recebemos o presente da salvação.

5. Soli Deo Gloria – Somente a Deus a Glória – Os reformadores reafirmaram a o ensino da Bíblia de que Deus não reparte sua glória com ninguém. Em uma época caracterizada por cultos antropocêntricos, a igreja precisa reavaliar o que significar dar glória a Deus.

A Declaração de Cambridge alerta: “Todas as vezes em que a autoridade bíblica é perdida na igreja, Cristo é despojado do seu lugar, o evangelho é distorcido, ou a fé é pervertida, a razão é uma só: nossos interesses substituíram os de Deus e estamos fazendo o trabalho à nossa maneira. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável”.

Ao olhar a realidade da igreja brasileira, devemos lamentar o triunfo das heresias nos púlpitos e o crescimento da espiritualidade gnóstica evidente nos cultos eivados de elementos do paganismo. Retornar as veredas antigas (Jr 6.16) é uma imperiosa necessidade para a igreja contemporânea.

Martin Lloyd-Jones está certo ao dizer que “a maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar para trás." Se a Igreja dependesse da fidelidade dos crentes, já estaria morta e sepultada. O Senhor Deus, no exercício da sua soberania por meio de sua santa e sábia providência usa os meios necessários para preservar a Igreja de Cristo. Por isso, Ecclesia reformata semper reformanda!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

SEDE SÓBRIOS E VIGILANTES!

Na jornada da fé o triunfo de chegar vitoriosamente é uma graça destinada àqueles que são sóbrios e vigilantes. O cristão tem três implacáveis inimigos, a saber, o mundo, a carne e o diabo. O mundo é o sistema de valores contrários aos propósitos de Deus. Essa força invisível que os teólogos chamam de pecado social tenta seduzir os filhos de Deus com prazeres temporários cujo fim é a morte. O diabo, embora alguns o considerem um mito popular, é um inimigo real. O adversário de nossas almas anda ao nosso derredor como um leão faminto, buscando alguém para devorar. Temos também um inimigo íntimo, a velha natureza; nas palavras de Paulo: “o pecado que habita em mim”. Os perigos são reais e a possibilidade de tropeçar é grande, razão pela qual somos exortados a orar e vigiar sempre. Mas existem aqueles que são iludidos a acreditar que a vida é um parque de diversões, quando na verdade é um campo de batalha.

No século 18, Benjamim Franklim escreveu um texto interessante que serve de alerta a todos nós. “O Rei Ricardo III estava se preparando para a maior batalha de sua vida. Seu inimigo era Henrique, Conde de Richmond. Ricardo ordenou que o cavalariço aprontasse o seu cavalo. Este foi ao ferreiro e ordenou: Ferre o cavalo do rei imediatamente! O ferreiro respondeu que demoraria, mas o cavalariço insistiu que precisava do cavalo já. Depois de tentar, o ferreiro explicou que demoraria porque faltava um prego e ele teria de fazê-lo à mão – e que não poderia garantir a ferradura sem aquele prego. Mesmo assim, o cavalariço pegou o cavalo e disse: vamos com os pregos que a ferradura tem. A batalha estava no auge e o exército de Ricardo começou a recuar: O rei voltou-se rapidamente para reunir os soldados e contra-atacar. Nisso a ferradura soltou-se, o cavalo caiu e o rei tombou. Cercado por Henrique e prestes a ser morto, Ricardo gritou: “Meu reino por um cavalo!”Por não ter dado importância a um prego que lhe custou a vida, Ricardo é conhecido pelo poema: Por falta de um prego, perdeu-se uma ferradura; por falta de uma ferradura, perdeu-se um cavalo; por falta de um cavalo, perdeu-se uma batalha; por falta de uma batalha, perdeu-se um reino. E tudo isso por falta de um prego na ferradura.

À luz dessas verdades devemos levar a sério as palavras de Pedro: “Sede sóbrios e vigilantes!” 1 Pe 5.8

Pr. Judiclay S. Santos

SEMINÁRIO SOBRE REVITALIZAÇÃO DE IGREJAS