quarta-feira, 7 de julho de 2010

LUZ NA MENTE E FOGO NO CORAÇÃO!


Por Judiclay Silva Santos


No cenário evangélico brasileiro co-existem dois modelos de espiritualidade cristã que se distanciam da proposta do evangelho porque separam a Palavra e o Espírito.


As igrejas históricas, de tradição e vínculo com o protestantismo, postulam um modelo de espiritualidade, essencialmente cognitivo e doutrinário. A ênfase está no conhecimento teológico, o que é importante e tem muito valor. No entanto, um demasiado interesse na doutrina pode transformar a teologia em uma coisa estéril. A sã doutrina tornar-se ortodoxia morta e mero dogmatismo, quando Deus é considerado um conceito a ser estudado, uma idéia a ser divulgada e uma tese a ser defendida. Trata-se de um tipo de conhecimento que não tem vida, pois embora alcance a mente, não transforma o coração.


Deus é um ser infinito e pessoal, que apesar de toda sua glória, imensurável e indescritível, se revela a nós através da sua Palavra e da ação do seu Espírito. Graças à cruz de Cristo, obra perfeita, suficiente e definitiva, o acesso ao trono da graça de Deus está livre a todos. A boa teologia é aquela que nos capacita a falar com Deus e não apenas a falar sobre Deus.


No extremo oposto, está o movimento pentecostal ou carismático que, para alguns, entre outras razões, nasceu como uma reação ao escolaticismo protestante, assim chamado por conta do racionalismo de seus proponentes. O intelectualismo gerou igrejas adoecidas e sem vida. No entanto, o movimento pentecostal também fica comprometido por conta da polarização. Ao perceber as implicações negativas do dogmatismo, o pentecostalismo, ainda que involuntariamente, cometeu suicídio intelectual à medida que adotou um tipo de espiritualidade perigosamente subjetiva, focada nas experiências sensitivas sem nenhuma fundamentação bíblica.


Se o problema das igrejas históricas é o racionalismo, onde Deus é apresentado como um conceito a ser estudado, no movimento carismático o risco é ceder ao emocionalismo, a supremacia das emoções sobre a razão. Assim sendo, a experiência passa ser mais importante que doutrina. Deus é transformado em uma fonte de energia e poder pelo qual eu me interesso a fim de tirar alguma vantagem. Tal atitude abriu a porta do misticismo pagão e, através dela, uma gama de práticas e experiências estranhas à fé cristã.


Penso que ambos os modelos são deficientes, pois estão distantes da autêntica espiritualidade cristã. Não basta ter doutrina correta, a ortodoxia é insuficiente para suprir a nossa sede de Deus. De igual modo as experiências não são confiáveis se não passam pelo crivo das Escrituras.


Jonathan Edwards, notável teólogo americano que viveu no século XVIII, enfatizou a importância de não separar o que Deus uniu. Ele ensinou que os cristãos, sobretudo, os líderes precisam ter luz na mente e fogo no coração. A proposta bíblica para uma espiritualidade sadia, verdadeiramente cristã, coaduna doutrina e vida, erudição e piedade, razão e emoção, saber e sabedoria, teologia e oração, ortodoxia e ortopraxia. Portanto devemos rejeitar o divórcio do conhecimento de Deus da experiência com Deus. O verdadeiro conhecimento ilumina a mente e aquece o coração.


A orientação de John Stott, respeitado pastor e mestre cristão é bem oportuna: “Nós precisamos ser uma Igreja fundamentada na Palavra e cheia do Espírito, pois Ele age por meio dela. Devemos manter juntos a Palavra de Deus e o Espírito de Deus. Isso porque, à parte do Espírito, a Palavra está morta, ao passo que, à parte da Palavra o Espírito é desconhecido.”


Luz na mente e Fogo no coração! O verdadeiro conhecimento de Deus só é possível à medida que Ele se revela. Quanto mais O conhecemos mais Ele se torna “o amado de nossa alma”. Viver em comunhão com o Deus trino, Pai, Filho e Espírito Santo é a maior bênção que uma pessoa pode desfrutar. Seu amor arrebata nossa mente e fascina o nosso coração, levando-nos a dizer: toda glória ao Deus de toda graça!

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