sábado, 29 de maio de 2010

O FIM DA MEMÓRIA

O Fim da Memória é um interessante livro publicado pela Editora Mundo Cristão. Seu autor é Miroslav Volf, um teólogo croata, que atualmente vive e trabalha na área de ensino nos Estados Unidos. Sua experiência de vida foi muito amarga, pois ele foi alvo de intensos e criminosos interrogatórios quando prestava serviço militar na então Yugoslávia.
Seu livro gravita em torno da graça do perdão e tem como tese central a difícil e possível proposição: É possível amar o malfeitor.




SINOPSE DO LIVRO:
As grandes atrocidades e tragédias que pontuam a história tornaram-se efemérides no intuito de evitar sua reincidência. Se, de um lado, isso nos mantém atentos ao passado, de outro em nada nos ajuda, segundo Miroslav Volf, a curar as feridas remanescentes. Tão somente, perpetuam-se ao longo da história, realimentando sentimentos de ódio e vingança, geração após geração.



Miroslav adota uma postura radical diante das lembranças amargas. Sob certas condições, defende, devemos esquecer o que se passou ou então saber lembrar, de modo a não se deixar levar pelo destrutivo poder da vingança, pois paradoxalmente a ausência de perdão leva à autocondenação permanente.



Engana-se quem pensa que está diante de um incorrigível e ingênuo intelectual. Miroslav tem consciência da dificuldade de agir como apregoa, não apenas quando se trata de dramas coletivos, mas principalmente de amargas violências individuais.

Amparado em sua própria experiência de perseguição, o autor garimpou no conhecimento teológico os elementos para fundamentar a possibilidade de redimir a história, em vez de se deixar levar pelo rastro de animosidade e dor que marcam a experiência dos povos.
Mirslav Volf é "um dos mais influentes nomes da teologia contemporânea". - Folha de S.Paulo.


A seguir pequenos estratos da sua entrevista, reproduzida na Folha de São Paulo:


O perdão não é simplesmente algo que se faz de uma só vez. Ele acontece quando nos movemos em espiral, por assim dizer, em volta da memória do fato que nos feriu. Perdoamos parte do que aconteceu, mas não o todo; perdoamos, e então retiramos nosso perdão em momentos de ira, e assim por diante. O perdoar é sempre um processo, e frequentemente um processo marcado por reveses inesperados. Não, nunca devemos dizer a um pai que ele "deve" perdoar nem pedir para outros para perdoar (embora seja verdade que "deveríamos" perdoar). O perdão é uma dádiva, e, se é dado, é dado livremente.
A memória de males sofridos confere energia e legitimação ao conflito. Ao mesmo tempo em que nos asseguramos de não nos expor à violência de outros, podemos fazer da memória dos sofrimentos que nos foram impostos pontes que nos unem aos outros e fontes de motivação para consertar o mundo.


Embora algumas terapias sejam contraproducentes, muitas são úteis -dentro de seus limites. Mas frequentemente elas não vão suficientemente longe. Por exemplo, elas frequentemente tratam apenas dos indivíduos, tentando ajudá-los a enfrentar as feridas que sofreram. Mas precisamos consertar também os relacionamentos, mesmo os relacionamentos que nos feriram. E nós mesmos não vamos nos curar a contento se nossos relacionamentos não forem consertados.


O perdão é o oposto da retaliação, mas não é oposto do castigo. Pode-se punir por outras razões que não apenas a de cobrar o castigo para compensar pelo mal feito. Uma pessoa pode ser perdoada e ainda assim cumprir pena! E uma coisa muito importante: o perdão não é o oposto da justiça. Perdoar significa afirmar o que exige a justiça, porque é afirmar que um malfeito aconteceu e que é um malfeito. É claro que perdoar também significa não nutrir ressentimento pelo malfeitor devido ao malfeito dele.


A não-recordação coroa o perdão. Depois de termos perdoado, depois de o relacionamento ter sido consertado, as memórias dos males que nos foram feitos perdem combustível emocional, porque não funcionam mais, e podem desaparecer.



Nota: Trata-se de um livro muito interessante e que provoca uma profunda e honesta reflexão sobre as nossas memórias. Esse livro é uma exortação a considerar o perdão como sendo uma faxina na alma. Boa leitura.

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