quarta-feira, 30 de setembro de 2009

NUNCA CHEGUE ATRASADO

Detesto atraso. Quem me conhece sabe disso. Não gosto de me atrasar para nenhum compromisso e fico irritado quando alguém chega atrasado por motivos banais que demonstram desrespeito. Os cristãos evangélicos são famosos na arte de abusar da graça. Em nome da liberdade todo tipo de atitude irresponsável é aceita como sendo tolerável.

O indivíduo responsável chega à escola na hora certa, porque se chegar atrasado não pode entrar. Muitos no dia vestibular tomam todos os cuidados necessários para não se atrasar. Quando os portões se fecham, não adianta argumentar. As desculpas são inúteis.

Pessoas se esforçam para chegar ao trabalho na hora certa, porque um atraso injustificado pode gerar uma demissão por justa causa. No aeroporto quem não chega na hora certa pode perder o vôo. Enfim, na vida a pontualidade é uma lei social.

No entanto, fico perplexo ao contatar a falta de pontualidade dos crentes no culto e outras atividades da igreja. Por que será que as pessoas pensam que só na igreja se pode chegar atrasado? Será que Deus não merece o seu melhor?

Quando eu chego atrasado estou dizendo: que o meu tempo é mais importante do que o tempo dos outros; que o que eu faço é mais importante do que os outros fazem; que eu não me importo com os outros.

Tempos atrás li uma historieta muito hilária e ao mesmo tempo instrutiva que serve como advertência sobre o perigo de se chegar atrasado. Se você tem o mau hábito de não ser pontual, corrija essa falha, pois o que parece algo sem muita importância, pode gerar alguns sérios transtornos.

NUNCA CHEGUE ATRASADO!

Certo Padre recebia um jantar de despedida pelos 25 anos de trabalho ininterrupto à frente de uma paróquia. Um político da região e membro da comunidade foi convidado para entregar o presente e proferir um pequeno discurso. O político se atrasou... O sacerdote, então, decidiu proferir umas palavras:

"A primeira impressão que tive da paróquia foi com a primeira confissão que ouvi. Pensei que o bispo tinha me enviado a um lugar terrível, pois a primeira pessoa que se confessou me disse que tinha roubado um aparelho de TV, que tinha roubado dinheiro dos seus pais, também tinha roubado a firma onde trabalhava, além de ter aventuras amorosas com a esposa do chefe.

Também em outras ocasiões se dedicava ao tráfico e a venda de drogas e para concluir, confessou que tinha transmitido uma doença à própria irmã".


"Fiquei assustadíssimo...
Mas com o passar do tempo, entretanto, fui conhecendo mais gente que em nada se parecia com aquele homem... Inclusive vivi a realidade de uma paróquia cheia de gente responsável, com valores, comprometida com sua fé e desta maneira tenho vivido os 25 anos mais maravilhosos do meu sacerdócio".

Justo nesse momento chega o político, e foi lhe dado a palavra para entregar o presente da comunidade, prestando a homenagem ao padre.

Pediu desculpas pelo atraso e começou o discurso dizendo:

"Nunca vou esquecer do dia em que o padre chegou à nossa paróquia...

Como poderia?

Tive a honra de ser o primeiro a me confessar com ele...".

Moral da história: "NUNCA CHEGUE ATRASADO".

terça-feira, 29 de setembro de 2009

AMOR ABUNDANTE

Por R.C. Sproul - Gospel Translations

Amor de Complacência

Eu sua magnífica biografia de Jonathan Edwards, George Marsden cita um trecho da Narrativa Pessoal, de Edwards: “Desde que cheguei a esta cidade [Northampton], eu tenho experimentado freqüentemente uma doce complacência em Deus, em vista das suas gloriosas perfeições, e da excelência de Jesus Cristo. Deus têm se mostrado para mim um ser glorioso e fascinante, por conta de sua santidade. A santidade de Deus sempre me pareceu ser o mais adorável de todos os seus atributos” (p. 112).
Se nós considerarmos a linguagem de Edwards e a sua escolha das palavras para descrever seu deleite arrebatador na glória de Deus, observaremos sua ênfase na doçura, na graça e na excelência de Deus. Ele relata desfrutar de uma “doce complacência” em Deus. O que ele quer dizer? O termo complacência não é uma palavra que usamos para descrever certa presunção, um comodismo autoconfiante, um tipo de inércia indolente que resulta de um tipo superficial de satisfação? Talvez. Mas vemos aqui um exemplo claro de como as palavras mudam de significado com o passar do tempo.

O que Edwards queria expressar com uma “doce complacência” não tinha nada a ver com uma dose contemporânea de presunção, e sim com uma sensação de prazer. Esse “prazer” não deve ser entendido como uma crassa sensação hedonista ou sensual, mas um deleite naquilo que é supremamente agradável à alma. As raízes desse significado de “complacência” têm origem no Oxford English Dictionary (vol. 3), onde o sentido principal é “o fato ou o estado de se agradar de alguma coisa ou pessoa; o plácido prazer ou a satisfação em algo ou alguém”. As referências citadas para esse uso vêm de John Milton, Richard Baxter, e J. Mason. Este último é citado: “Deus não pode ter complacência verdadeira em ninguém senão naqueles que são como ele”.

Eu insisto no uso mais antigo do inglês para a palavra complacência por ser ela usada de forma crucial na linguagem da teologia histórica e ortodoxa. Quando falamos do amor de Deus, fazemos uma distinção entre as três categorias desse amor: o amor de benevolência, o amor de beneficência e o amor de complacência. O motivo da distinção é atentarmos para as diferentes formas pelas quais Deus ama a todas as pessoas, em um sentido, e de forma especial a seu povo, os remidos.

O Amor de Benevolência
Benevolência é uma palavra derivada do prefixo latino bene, que significa “bem,” ou “bom,” e é a raiz da palavra vontade. As criaturas que exercitam a faculdade da vontade pela tomada de decisões são chamadas de criaturas volitivas. Ainda que Deus não seja uma criatura, ele é um ser volitivo à medida que tem também a capacidade decisão.

Todos nós conhecemos bem o relato de Lucas do nascimento de Jesus, no qual o exército celestial louva a Deus, declarando: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens” (Lc 2.8-14, ARC). Ainda que se argumente que a bênção é dada aos homens de boa vontade, o significado principal é o mesmo. O amor de benevolência é a qualidade da boa vontade para com as pessoas.
O Novo Testamento está repleto de referências da boa vontade de Deus para com toda a humanidade, mesmo em nossa condição caída. Apesar de satanás ser um ser malévolo (que fomenta má vontade para conosco e para com Deus), nunca se pode dizer devidamente de Deus que Ele é malévolo. Ele não tem malícia em sua pureza, nem malignidade em suas ações. Deus não se “deleita” na morte do ímpio — ainda que a decrete. Seus julgamentos sobre o mal estão fundamentados em Sua justiça, e não em alguma malícia distorcida em Seu caráter. Como um juiz terreno lamenta ao mandar o culpado para o castigo, Deus se alegra na justiça desse ato, mas não tem prazer nenhum na dor dos que são merecidamente punidos.

Esse amor de benevolência, ou boa vontade, se estende a todas as pessoas, sem distinção. Nesse sentido, Deus é amoroso até para com os condenados ao inferno.

O Amor de Beneficência
Este tipo de amor, o amor de beneficência, está intimamente relacionado ao amor de benevolência. A diferença entre benevolência e beneficência é a mesma que há entre a disposição e a ação. Eu posso me sentir favorável a alguém, mas a minha boa vontade continuará desconhecida até ou a menos que eu a manifeste por alguma ação. Nós freqüentemente associamos beneficência com atos de bondade ou caridade. Notamos aqui que a própria palavra “caridade” é freqüentemente usada como sinônimo de amor. No sentido de beneficência, atos de bondade são atos do amor de beneficência.


Jesus enfatizou esse aspecto do amor de Deus no ensino a respeito daqueles que se beneficiam da providência de Deus: “Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. ’ Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão havereis?” (Mt 5.43ss. ARC).

Nessa passagem, Jesus prescreve a prática do amor para com os inimigos. Percebamos que esse amor não é definido em termos de sentimentos ardentes, vagos ou sanguíneos, mas em termos de comportamento. Neste contexto, amor é mais um verbo que um substantivo. Amar nossos inimigos é sermos amorosos para com eles. E isso envolve fazer-lhes o bem.

Sob esse aspecto, o amor que devemos demonstrar é um reflexo do amor de Deus para com seus inimigos. Àqueles que o odeiam e o maldizem, Ele mostra o amor de beneficência. A benevolência (boa vontade) de Deus é demonstrada em sua beneficência (ações benignas). Seu sol e chuva são concedidos igualmente ao justo e ao injusto.

Vemos então que o amor benevolente e o amor beneficente de Deus são universais. Eles se estendem a toda a humanidade.

Aqui, porém, está a principal diferença entre esses tipos de amor e o amor de complacência de Deus. Seu amor de complacência não é universal, nem incondicional. Tristemente, em nossos dias, o caráter glorioso desse tipo de amor divino é geralmente negado ou obscurecido por uma universalização coletiva do amor de Deus. Declarar indiscriminadamente às pessoas que Deus as ama “incondicionalmente” (sem distinguir com cuidado os tipos diferentes de amor divino) é promover uma falsa sensação de segurança nos ouvintes.

O amor de complacência de Deus é o deleite e o prazer especiais que Deus tem primeiramente em seu Filho unigênito. É Cristo o amado do Pai, acima de todos; Ele é o Filho em quem o Pai “se compraz.”

Pela adoção em Cristo, cada crente participa desse divino amor de complacência. Esse é o amor desfrutado por Jacó, mas não por Esaú. Esse amor é reservado para os remidos em quem Deus se deleita – não porque haja algo inerentemente amável ou prazeroso em nós – mas porque estamos tão unidos a Cristo, o Amado do Pai, que o amor que o Pai tem pelo Filho é derramado sobre nós. O amor de Deus por nós é agradável e doce para Ele e para nós, como Jonathan Edwards compreendeu tão bem.

sábado, 26 de setembro de 2009

ATEUCRACIA E HETEROFOBIA

A humanidade conviveu e tem convivido com regimes não-democráticos: monarquias absolutas, teocracias, ditaduras, aristocracias, oligarquias, que privilegiam famílias, etnias, religiões, partidos ou classes. Com a substituição do poder personalizado pelo poder institucionalizado, surgiram os Estados Nacionais, as constituições e a democracia, como “o povo politicamente organizado”.

Na maioria das vezes, o formalismo democrático e a liturgia das eleições apenas legitimam grupos, que controlam os aparelhos do Estado. Ao povo cabe apenas escolher periodicamente, entre os escolhidos, os seus senhores. Presencia-se no Ocidente, sob a fachada da democracia, uma nova autocracia: a dos ateus e agnósticos e materialistas secularistas -- netos do Iluminismo -- contra a maioria religiosa dos cidadãos. Essa ideologia aparece mais nítida com o término da Guerra Fria, e pretende confundir Estado laico com Estado secularista. Por Estado laico se entende aquele legalmente separado das igrejas, sem religião oficial, com a igualdade perante a lei, que se constitui um avanço para a civilização, e que foi uma das bandeiras do protestantismo histórico no Brasil.


O Estado secularista expressa uma ideologia militante de rejeição da religião, de sua negação como fato social, cultural e histórico, ou a considerando intrinsecamente negativa. No passado, tivemos a influência da filosofia positivista que, com sua “lei dos três estados”, advogava a marcha inexorável da história de uma etapa religiosa inferior para uma etapa superior, pretensamente científica ou positiva. Essa filosofia marcou grande parte das ideologias contemporâneas, inclusive o marxismo, cujos regimes, oficialmente ateus, procuravam “colaborar” com esse processo histórico perseguindo implacavelmente a religião e tornando compulsório o ensino do ateísmo. O que essa elite iluminada tem dificuldade de aceitar é o fato de que, no século 21, a religião em vez de diminuir está aumentando, no que Giles Kepel denomina “a revanche de Deus”, e que dá o título do novo “best-seller” de John Micklethwait e Adrian Wooldridge, “Deus Está de Volta”. Há todo um malabarismo intelectual para “explicar” essa anomalia, e, por outro lado, se procura promover um combate sistemático para contê-la.


O antirreligiosismo teve como epicentro a Europa Ocidental, estendeu-se para a América do Norte, e se espalha pela periferia do sistema mundial, chegando até nós. Há uma prioridade de se atacar as religiões monoteístas de revelação, porque julgam que o monoteísmo promove a intolerância e a revelação traz conceitos e preceitos autoritativos retrógrados (o pecado, por exemplo) que se chocam com as visões tidas como superiores da autonomia das criaturas. Mais particularmente, esse ataque se centra contra o cristianismo. A intolerância para com a religião implica impossibilitar sua expressão nos espaços públicos ou que seus seguidores ajam publicamente por motivações religiosas.

A religião, para seus adversários secularistas, deveria apenas ficar confinada às quatro paredes dos templos e dos lares, à subjetividade de cada um, condenada à irrelevância. Essa elite se sente iluminada, superior, com o papel histórico de proteger as pessoas delas mesmas, de corrigir seus “atrasos” e de “educar” a humanidade, seja pelo apropriação dos aparelhos ideológicos do Estado (educação, mídia), seja pelo uso do aparelho coercitivo do Estado (leis, justiça, polícia).


Na esteira desse movimento temos tido a chatice do “politicamente correto” (moralismo de esquerda), a luta por retirar símbolos religiosos dos espaços públicos, acabar com os dias santificados, proibir a saudação “Feliz Natal” (deve-se apenas desejar “Boas Festas”), e a defesa de bandeiras como a liberação sexual, o aborto (no lugar do direito à vida, o direito da mulher a dispor do “seu” corpo), a eutanásia e a licitude das “orientações sexuais” -- a chamada agenda GLSTB (gays, lésbicas, simpatizantes, transgêneros e bissexuais). Por sua mobilização política (e não por “descobertas científicas”) se promoveu a retirada dessa anomalia do rol das enfermidades e dos ilícitos -- e se instituir o casamento homossexual -- e se parte para proibir os que querem deixá-la, cassar o registro de psicoterapeutas, forçar a maioria a mudar seus padrões morais e criminalizar os que não aderirem.


Enquanto a Europa e a América do Norte já evidenciam um novo ciclo de perseguição religiosa, corre no Congresso Nacional um projeto de lei que faria o autor desse artigo ser condenado a até cinco anos de prisão por escrevê-lo. Enquanto a minoria materialista tenta forçar uma ateucracia e a minoria homossexual tenta fomentar uma heterofobia -- ódio aos que insistem no seu direito de afirmar a normatividade da heterossexualidade, e de não aceitar a normalidade do homoerotismo -- eles recebem o apoio (cavalo de troia) de outra minoria: o liberalismo teológico. A nós, a maioria, cabe, democraticamente, o direito à resistência!•


Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política -- teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo -- desafios a uma fé engajada.http://www.dar.org.br/

Fonte: http://www.ultimato.com.br/

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

3° Fórum Violência, Participação Popular e Direitos Humanos


Olá amigos, quero encorajá-los a participar do 3° Forum promovido pelo movimento Rio de Paz. Quem teve a oportunidade de participar dos outros dois encontros pode testemunhar que se trata de um trabalho sério que envolve pessoas capazes e interessadas em refletir com profundidade sobre cidadania. Segue abaixo maiores informações aos que estiverem interessados.
Um forte abraço.
Judiclay
3° Fórum Violência, Participação Popular e Direitos Humanos

Dia: 28 de Setembro de 2009
Horário: Das 14h às 21h
Local: Centro Cultural da Justiça FederalAv. Rio Branco, 241 Cinelândia Centro Rio de Janeiro.

Em comemoração ao Dia Internacional da Paz, o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), o Movimento Rio de Paz e o Centro Cultural da Justiça Federal promovem na segunda-feira, dia 28 de setembro, a partir das 14h, o 3º Fórum Violência, Participação Popular e Direitos Humanos.


O encontro - que será aberto pelos diretores do Centro Cultural da Justiça Federal, desembargador André Fontes, e do UNIC Rio, Giancarlo Summa, além do Presidente do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa - vai reunir autoridades de segurança e do Poder Judiciário, além de acadêmicos das principais universidades do Estado do Rio de Janeiro.

Entre os assuntos em debate, figuram os entraves à implementação de políticas públicas na área de segurança, o problema do acesso igualitário à justiça, a política prisional e as violações de direitos humanos, bem como de que formas a sociedade pode participar do controle das instituições do sistema de justiça criminal.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A DEMOCRACIA CONTRA O ABSOLUTISMO POPULISTA

A tentativa levada a efeito por Hugo Chávez, Lula e Daniel Ortega de reinstalar, à força, Manuel Zelaya no poder, em Honduras, obedece a uma espécie de diretriz das esquerdas latino-americanas: evidenciar que os Poderes Legislativo e Judiciário nada podem contra um “presidente eleito pelo povo”, pouco importa o que ele faça e como se comporte. As urnas confeririam ao eleito uma autoridade que estaria acima da própria Constituição. Assim se deram as “mudanças” na Venezuela, na Bolívia e no Equador. O primeiro país já é uma ditadura; os dois outros estão a caminho, seguidos de perto por Nicarágua. Não pensem que Lula é estranho a este sentimento. É que, no Brasil, as coisas têm de ser feitas de outro modo. O fato é que estamos, no continente, diante de uma óbvia hipertrofia do Poder Executivo, que passa a reivindicar o poder absoluto ancorado na “legitimidade popular”. A fórmula, assim, fica simples: “Zelaya foi eleito? Então tem de governar”, pouco importa se de acordo com a Constituição ou contra ela.

Por isso a conspirata de agora contra o governo hondurenho. A verdade cristalina, evidente, comprovada pelos fatos, é que Honduras, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelo estúpido isolamento a que vem sendo submetida depois da deposição constitucional de Manuel Zelaya, estava vivendo relativamente em paz. E o advérbio fica por conta das naturais dificuldades que enfrenta um país nessas condições. Justiça, Congresso, imprensa, Igreja, sindicatos… Cada instituição ou ente da República vivia na plenitude de seus direitos. Era assim até que Lula irrompesse no cenário.

Não custa lembrar: Zelaya foi deposto PARA QUE A LEI SE CUMPRISSE. Como sabem os leitores deste blog, não preciso de pelo menos 24 horas para opinar sobre alguma coisa; não espero que os leitores primeiro se manifestem para depois dizer o que penso. Outros aproveitam um detalhezinho ou outro para dar cavalo de pau no que vinham afirmando e sustentar, então, o contrário. No dia do que chamam golpe, que golpe nunca foi, escrevi aqui o texto Quem é mesmo o golpista em Honduras? POR ENQUANTO, Forças Armadas garantem Constituição democrática. Fui o primeiro, talvez na imprensa mundial (estou parecendo o Lula, rá, rá, rá), a fazer o óbvio: ler a Constituição hondurenha, que vinha garantindo três décadas de regime democrático no país. Não fiz nenhum favor a ninguém. Era uma obrigação de todo jornalista. Alguns não a cumpriram até hoje.

Ocorre que Hugo Chávez anunciou o que chamou de “golpe”, o Brasil seguiu atrás como cachorro vagabundo atrás do caminhão de gás, e José Miguel Insulza, o asqueroso socialista chileno que preside a OEA, estrilou e anteviu guerra civil… Aí veio o governo de Barack Hussein, que terceirizou para Madame Clinton o “setor América Latina”. E a imprensa mundial, incluindo a brasileira, que chega a estar infiltrada pela assessoria de imprensa de Celso Amorim, saiu, bovinamente, a protestar contra o “golpe”.

Que golpe? A Constituição evidencia que Zelaya caiu para preservar as instituições. Ele estava fazendo um plebiscito declarado ilegal pela Justiça e rejeitado pelo Congresso. Deu ordens ao Exército que contrariavam a Constituição. Foi deposto pela Justiça. Mas um erro grave foi cometido: foi retirado do país. Conta-me uma fonte ligada ao governo hondurenho que os representantes da Justiça e do Congresso que negociaram com Zelaya caíram num truque infantil. A decisão inicial, com base na Constituição e nas leis, era prendê-lo e processá-lo. Ele teria pedido para sair. Convenceu os interlocutores que isso evitaria confrontos e eventuais mortes. Cederam a seus apelos. O pijama já fazia parte de sua pantomima. Chávez, o real organizador e financiador do plebiscito, tratou de cada detalhe da saída de Zelaya e, depois, da “resistência”. O governo provisório de Honduras apostou que o madeireiro milionário pensaria nos próprios negócios e na fortuna que tem no país e não criaria problemas. Deu no que deu.

A fonte é muito boa, o que não significa que acredite sem reservas na história. O comandante do Exército já havia dito a Zelaya que não cumpriria uma ordem declarada ilegal pela Justiça. Ele sabia que iria ser deposto. Não queria ser preso. E não foi. Retirá-lo do país, à força ou numa negociação, foi um erro estúpido. Conferiu ares de verdade à mentira evidente de que teria havido um golpe. Sigamos.

Honduras vivia, então, relativamente em paz. Cedo ou tarde, o governo que saísse das urnas acabaria sendo reconhecido. MAS UMA NOVIDADE INSUPORTÁVEL ESTARIA DADA PARA OS BOLIVARIANOS E SEUS AMIGOS: PRESIDENTE QUE RECORRER ÀS ELEIÇÕES PARA AFRONTAR A CONSTITUIÇÃO CAI. E é derrubado democraticamente. O próprio Lula, pesquisem, chegou a comentar: “Se isso vira moda…” Pois é, se isso “vira moda”, o bolivarianismo vai para o vinagre. HONDURAS, COM EFEITO, É UM PÁIS PEQUENO DEMAIS PARA INCOMODAR TANTO. A QUESTÃO É DE PRINCÍPIO PARA OS AUTORITÁRIOS. Eles precisam da soberania absoluta - e absolutista - das urnas para levar adiante o seu projeto de ditadura.

Assim, Lula, Ortega e Chávez se articularam para instaurar em Honduras o caos, a desordem, o clima de guerra civil. E pouco se importaram ou se importam com o destino dos hondurenhos. A sorte do governo provisório - e da população - é que Zelaya tem o apoio de uma minoria que chega a ser ridícula. Por isso, os distúrbios de rua são contidos com relativa facilidade. Chávez estava e está determinado a provocar um banho de sangue no país, como ficou evidente nas duas outras vezes em Zelaya tentou voltar Na semana seguinte ao conflito, esquerdistas da Venezuela e da Nicarágua foram presos no país. Estavam lá com o único fito de participar das manifestações.

O que está em jogo em Honduras é mais do que reinstalar ou não Zelaya no poder. O que está em jogo é saber qual é o limite da dita soberania de um governo eleito pelo povo. Será ele tão poderoso que pode afrontar a própria Constituição que dá legitimidade à escolha democrática? Ora, para um democrata, a resposta óbvia é “Não”. O povo não é soberano para rasgar a Constituição que declara a sua soberania, entenderam? E isso significa que há regras. As da Constituição hondurenha foram violadas por Zelaya.

Trata-se, em suma, de um choque entre a legalidade democrática e, se me permitem, o populismo absolutista. Houvesse um governo nos EUA e não um garoto-propaganda das ONGs, que tem a ambição de governar o país a partir da TV e da Internet, isso já teria ficado claro há tempos. E esses ratos gordos não estariam tão assanhados. O problema é que o gato está cuidando da maquiagem para mais um espetáculo, mais uma entrevista, mais um show midiático.
Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Olá amigos,
É com muita alegria que convido vocês para participarem de um culto especial que será realizado em nossa igreja no próximo domingo. Na ocasião do 47° aniversário de nossa Igreja receberemos um dos mais excelentes músicos do Brasil, o notável João Alexandre. Além de sua inconfundível musicalidade, João é um cara crente, comprometido com o Senhor Jesus Cristo. Será uma honra recebê-lo em nossa igreja. Você também é nosso convidado.

A paz

Judiclay Santos


O DOUTOR DA GRAÇA FALA SOBRE O PECADO

Agostinho de Hipona, em Cidade de Deus.

O pecado (de Adão) foi um desprezo à autoridade de Deus. Deus criou o homem; ele o fez à sua própria imagem; ele o estabeleceu acima dos outros animais; ele o colocou no Paraíso; o enriqueceu com todo tipo de abundância e segurança; não lhe impôs nem muitos nem grandes, nem difíceis mandamentos, mas, a fim de tornar uma obediência sadia fácil para ele, deu-lhe um único pequeno e leve preceito pelo qual lembraria à criatura, cujo culto deveria ser livre, de que ele era o Senhor.

Conseqüentemente, foi justa a condenação que se seguiu e uma condenação tal que o homem, que pela manutenção dos mandamentos deveria ser espiritual até mesmo em sua carne, se tornou carnal até mesmo em seu espírito. E assim como em seu orgulho, ele buscou ser a sua própria satisfação, Deus em sua justiça, o abandonou a si mesmo, não para viver na independência absoluta que ansiava mas, no lugar da liberdade que desejava, para viver insatisfeito consigo mesmo numa sujeição dura e miserável a quem, pelo pecado, havia se submetido. Ele foi condenado, a despeito de si mesmo, a morrer em corpo assim como havia se tornado, por vontade própria, morto em espírito, condenado, até mesmo à morte eterna (não tivesse a graça de Deus o libertado) porque havia renunciado à vida eterna.

Qualquer um que pense que esse castigo dói excessivo ou injusto mostra a inabilidade para medir a grande iniqüidade de pecar, na qual o pecado podia tão facilmente ser evitado.



sexta-feira, 18 de setembro de 2009

DURA REALIDADE!

"Há uma grave tendência de se ocupar o púlpito com assuntos
que informam, mas não transformam;
que divertem mas não convertem".



Abdoral Fernandes da Silva,
pastor da Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil

A AFRICA ÀS AVESSAS

O terceiromundismo, que foi uma invenção de Stálin, acabou por se tornar - e é até hoje - uma das fontes maiores da autoridade do espírito revolucionário, instilando na alma da civilização ocidental um complexo de culpa inextinguível e obtendo dele toda sorte de lucros morais, políticos e financeiros. Subscrita pelos organismos internacionais, alimentada por fundações bilionárias e várias dúzias de governos, trombeteada por incansáveis tagarelas como Noam Chomsky e Edward Said, entronizada como doutrina oficial por toda a grande mídia da Europa e dos EUA, essa ideologia toda feita de mendacidade oportunista acabou por se impregnar tão profundamente na opinião pública que qualquer tentativa de contestá-la, mesmo em tom neutro e acadêmico, vale hoje como prova inequívoca de "racismo".


Um de seus dogmas principais é justamente a acusação de racismo, atirada genericamente ao rosto de toda a cristandade por incontáveis exércitos de intelectuais ativistas e, nas últimas décadas, por todos os porta-vozes do radicalismo islâmico. Imbuído da crença na inferioridade congênita dos negros, o homem branco europeu teria sido, segundo essa doutrina, o escravagista por excelência, dizimando a população africana e financiando, com a desgraça do continente negro, a Revolução Industrial que enriqueceu o Ocidente.


Tudo, nessa teoria, é mentira. A começar pela inversão da cronologia. Os europeus só chegaram à África por volta da metade do século XV. Muito antes disso o desprezo racista pelos negros era senso comum entre os árabes, como se vê pela palavra de alguns de seus mais destacados intelectuais. Extraio estes exemplos do livro de Bernard Lugan, Afrique, l'Histoire à l'Endroit (Paris, Perrin, 1989):


Ibn Khaldun, o historiador tunisino (1332-1406), assegura que, se os sudaneses são caracterizados pela "leviandade e inconstância", nas regiões mais ao sul "só encontramos homens mais próximos dos animais que de um ser inteligente. Eles vivem em lugares selvagens e grutas, comem ervas e grãos crus e, às vezes, comem-se uns aos outros. Não podemos considerá-los seres humanos".

O escritor egípcio Al-Abshihi (1388-1446) pergunta: "Que pode haver de mais vil, de mais ruim do que os escravos negros? Quanto aos mulatos, seja bom com eles todos os dias da sua vida e de todas as maneiras possíveis, e eles não lhe terão a menor gratidão: será como se você nada tivesse feito por eles. Quanto melhor você os tratar, mais eles se mostrarão insolentes; mas, se você os maltratar, eles mostrarão humildade e submissão."


Iyad Al-Sabti (1083-1149) escreve que os negros são "de todos os homens, os mais corruptos e os mais dados à procriação. Sua vida é como a dos animais. Não se interessam por nenhum assunto do mundo, exceto comida e mulheres. Fora disso, nada lhes merece a atenção."
Ibn Butlan, reconhecendo que as mulheres negras têm o senso do ritmo e resistência para os trabalhos pesados, observa: "Mas não se pode obter nenhum prazer com elas, tal o odor das suas axilas e a rudeza do seu corpo".


Em contrapartida, teorias que afirmavam a inferioridade racial dos negros não se disseminaram na Europa culta senão a partir do século XVIII (cf. Eric Voegelin, The History of the Race Idea. From Ray to Carus, vol. III das Collected Works, Baton Rouge, Louisiana State University Press, 1998). Ou seja: os europeus de classe letrada tornaram-se racistas quase ao mesmo tempo em que o tráfico declinava e em que eclodiam os movimentos abolicionistas, dos quais não há equivalente no mundo árabe, de vez que a escravidão é permitida pela religião islâmica e ninguém ousaria bater de frente num mandamento corânico.


O racismo antinegro é pura criação árabe e, na Europa, não contribuiu em nada para fomentar o tráfico negreiro.


Característica inversão do tempo histórico é o estereótipo, universalmente aceito, do colonialista europeu invadindo a África com um crucifixo na mão, decidido a impor a populações inermes a religião dos brancos. O cristianismo foi religião de negros muito antes de ser religião de brancos europeus. Havia igrejas na Etiópia no tempo em que os ingleses ainda eram bárbaros pagãos. Mais de mil anos antes das grandes navegações, era na África que estavam os reinos cristãos mais antigos do mundo, alguns bastante cultos e prósperos. Foram os árabes que os destruíram, na sanha de tudo islamizar à força. Boa parte da região que vai desde o Marrocos, a Líbia, a Argélia e o Egito até o Sudão e a Etiópia era cristã até que os muçulmanos chegaram, queimaram as igrejas e venderam os cristãos como escravos. Quatro quintos do prestígio das lendas terceiromundistas repousam na ocultação desse fato.


À inversão da cronologia soma-se, como invariavelmente acontece no discurso revolucionário, a da responsabilidade moral. Não é nem necessário dizer que a fúria verbal dos árabes de hoje contra a "civilização cristã escravagista" é pura culpa projetada: se os europeus trouxeram para as Américas algo entre doze e quinze milhões de escravos, os mercadores árabes levaram para os países islâmicos aproximadamente outro tanto, com três diferenças: (1) foram eles que os aprisionaram - coisa que os europeus nunca fizeram, exceto em Angola e por breve tempo -; (2) castraram pelo menos dez por cento deles, costume desconhecido entre os traficantes europeus; (3) continuaram praticando o tráfico de escravos até o século XX. O escravagismo árabe foi assunto proibido por muito tempo, mas o tabu pode-se considerar rompido desde que a editora Gallimard, a mais prestigiosa da Franca, consentiu em publicar o excelente estudo do autor africano Tidiane N'Diaye, Le Genocide Voilé (2008), que comentarei outro dia.


Mas não são só os árabes que têm culpas a esconder por trás de um discurso de acusação indignada. A escravidão era norma geral na África muito antes da chegada deles, e hoje sabe-se que a maior parte dos escravos capturados eram vendidos no mercado interno, só uma parcela menor sendo levada ao exterior. Quando os apologistas da civilização africana enaltecem os grandes reinos negros de outrora, geralmente se omitem de mencionar que esses Estados (especialmente Benin, Dahomey, Ashanti e Oyo) deveram sua prosperidade ao tráfico de escravos, do qual sua economia dependia por completo.


Especialmente o reino de Oyo, escreve Lugan, "desenvolveu um notável imperialismo militar desde fins do século XVII, buscando atingir o oceano para estabelecer contatos diretos com os brancos. Já antes disso, a força guerreira de Oyo, especialmente sua cavalaria, permitia uma abundante colheita de escravos que ela aprisionava ao sul, entre os Yoruba, e no norte entre os Bariba e os Nupê. Tradicionalmente, os numerosos cativos tornavam-se escravos no seio da sociedade dos vencedores. Com a aparição do tráfico europeu, uma parte - mas só uma parte - foi encaminhada ao litoral."


Num próximo artigo mostrarei mais algumas inversões prodigiosas que o discurso terceiromundista opera na história da escravidão africana.


Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 16 de setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O PECADO DA INSATISFAÇÃO

Nós vivemos na era da globalização econômica. Nessa aldeia global e sem fronteiras um macro shopping mundial foi aberto. Estudos indicam que até um tempo atrás as pessoas ficavam satisfeitas com as suas necessidades básicas supridas. Mas desde a década de 70 vem crescendo a indústria do marketing que busca essencialmente nos convencer de que, além das necessidades humanas básicas de ar, água, alimento e abrigo, todos nós temos uma quinta necessidade, a de novidade. Com isso, o luxo de ontem se tornou a necessidade de hoje.

A análise da atual conjuntura é assustadora. É impressionante constatar que “antes que as crianças entrem na primeira série do ensino fundamental, já terão sido expostas a trinta mil anúncios e propagandas.” A fim de gerar consumidores insatisfeitos a estratégia é alterar os valores das pessoas. Para um indivíduo fisgado pela indústria do marketing e curvado ao espírito consumista, o TER e não o SER é a base de sua felicidade. As pessoas tendem a adubar a sua vida com falsos referenciais de significação. Quando isso acontece, elas gastam o que não podem com o dinheiro que não tem para impressionar as pessoas que não conhecem. Tudo é vaidade!

Epicuro, um notável filósofo grego dizia com muita propriedade: “Nada é o bastante para o homem para quem o suficiente é muito pouco.” Há muita gente infeliz e insatisfeita, aprisionadas pelas algemas do consumismo e atrás das grades da vaidade. Um contingente expressivo de pessoas vive na mediocridade porque desconhece os bons, perfeitos e agradáveis propósitos de Deus, o Pai de amor. Há crentes que na ânsia de buscar o pão nosso de cada dia se esquecem do Pai nosso que está nos céus.

Meu amigo, se você está lendo esse texto, você é mais feliz do que 2 bilhões de pessoas que não conseguem ler absolutamente nada. Se você tem qualquer dinheiro, ainda que centavos em sua carteira, você está entre os 8% de pessoas mais ricas do mundo. Portanto, deveríamos levar a sério o que diz a Palavra de Deus: “Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as cousas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma, te deixarei, nunca jamais te abandonarei”. Hebreus 13.5

UMA SÁBIA E PIEDOSA ORAÇÃO

Oração de A.W.Tozer

Senhor, quão grande é o nosso dilema! Na tua presença seria melhor nos calarmos, mas o amor inflama os nossos corações e nos constrange a falar.

Se fôssemos manter silêncio, as próprias pedras clamariam; mas, se abrirmos a boca, que deveremos dizer? Dá-nos a compreensão de que nada nos é dado a saber, pois homem algum discerne as coisas divinas, mas só o Espírito de Deus as conhece.


Que a fé nos sustente onde a razão nos falha; e, assim, pensaremos porque cremos, e não para que creiamos.

Em nome de Jesus.
Amém!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

DO CABO DAS TORMENTAS AO CABO DA BOA ESPERANÇA

Na primeira metade do século 15 o mundo conhecido terminava no norte da África. O limite era o estreito de Gibraltar, o canal entre a África e a Europa. Dizia-se que os mares abaixo daquela fronteira eram “um verde mar de escuridão”. Para decifrar esse mistério, o infante dom Henrique, irmão do rei de Portugal, resolveu enviar homens e navios para explorar o desconhecido. O primeiro explorador chamava-se Gil Eanes, que fez a primeira viagem em 1433. Foram necessários quase meio século para que os portugueses chegassem à altura de Angola e Namíbia (1480). Aos 38 anos de idade, Bartolomeu Dias chegou ao extremo sul do continente africano, onde as águas do Atlântico se misturam com as águas do Índico. Ali enfrentou uma terrível tempestade de 14 dias em alto-mar, e por conta disso, batizou aquela região de Cabo das Tormentas.

Vencidos todos os medos, reais e imaginários, foram feitas extraordinárias descobertas de significação para todo o mundo. Dez anos depois Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para as Índias (1498) e Pedro Álvares Cabral aportou no Brasil (1500). É digno de nota que Fernão Magalhães, de setembro de 1519 a setembro de 1522, fez a primeira viagem de circunavegação do globo. A praia das lágrimas (onde e quando se despedia da família e da pátria) tornou-se a praia da alegria ao regressarem em paz. Por ordem de D. João II, o Cabo das Tormentas, passou a ser chamado de Cabo da Boa Esperança, pois, a partir dali havia um mundo novo.

O soberano Deus, no exercício da sua Providência permite que passemos pelas “Tormentas da vida”. Ventos contrários e ondas bravias nos assaltam. Somos tentados a dizer: “Ó Mestre! O mar se revolta, as ondas nos dão pavor. O céu se reveste de trevas. Não temos um Salvador!”. No entanto, jamais devemos nos esquecer que as tempestades são pedagógicas. Há um propósito engendrado pela bondosa mão do Senhor. No momento oportuno, a bonança virá. Nosso destino não é a desgraça do naufrágio, mas a glória de chegar ao Novo Mundo. Para aquele que confia em Cristo, o Cabo das Tormentas, pode-se transformar em Cabo da Boa Esperança.


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A CONEXÃO ENTRE A FÉ E A PRÁTICA.


Sermão pregado na Igreja Batista Betel de Mesquita
Data: 23/08/08
Texto: Efésios 4.1 “Rogo-vos, pois, eu, prisioneiro no Senhor que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados,”

Introdução:
No cristianismo doutrina e vida são duas faces de uma mesma moeda. O saber cognitivo e a sabedoria prática estão interligados e são interdependentes. Por isso, um dos grandes desafios da igreja cristã é manter a unidade entre a fé, o que se crê e a prática, o que se vive.

Penso que em todo o Novo Testamento, a carta aos Éfésios é o livro que melhor exemplifica este princípio que propõe equilíbrio e promove saúde espiritual da igreja.

A carta ao Efésios pode ser dividida em duas partes, cada uma com três capítulos. Os três primeiros formam a seção doutrinária. Nos últimos três anos nós examinamos os três primeiros capítulos. Em linhas gerais, todas as exposições focalizaram a doutrina.

A partir do capítulo 4 nós vamos entrar na seção prática da carta. Nos três últimos capítulos o foco é a aplicação da doutrina na vida. Paulo vai apresentar como as doutrinas cristãs devem nortear o modo de viver do crente em Cristo. É preciso dizer que essa divisão não é absoluta. Ele volta a expor doutrina na seção prática da carta. Logo no início, ao falar sobre a unidade da igreja, por exemplo, ele vai fundamentar sua exortação na doutrina da Trindade. Ele volta à esfera da doutrina com o objetivo de fazer aplicação à vida da igreja.

A CONEXÃO ENTRE A FÉ A PRÁTICA, esse título foi dado a essa mensagem, pois é justamente o que Paulo se propõe a tratar aqui. A intenção do apóstolo é mostrar aos Efésios a necessidade aplicar a doutrina à vida. O que se sabe, deve influenciar o como se vive.

Aprendi com Martyn Lloyd-Jones que nada nas Escrituras é irrelevante, casual, sem um propósito claro por parte do Espírito Santo de nos comunicar alguma verdade importante. Quem teve o privilégio de ler todos os volumes de seus sermões das cartas aos Efésios e Romanos sabe do que estou falando. Nestas exposições bíblicas muitas vezes pregando com base numa única palavra Martyn Lloyd-Jones comunicou verdades maravilhosas.

E nesse verso primeiro do capítulo 4, há uma palavra chave para entender toda carta. Ele diz: “Rogo-vos, POIS”, outras versões trazem: “PORTANTO, rogo-vos”.

Observe que esta conjunção faz a conexão entre o que foi dito e o que será dito. Se a primeira seção é doutrinária e a segunda é prática, ao dizer ROGO-VOS, POIS, ele faz uma conexão. Essa pequena palavra vai nos orientar a viver à luz da doutrina considerada anteriormente.

Não posso deixar de dar atenção a isso. Se eu pudesse resumir em uma frase o que Paulo pretende dizer aqui, seria: PONHA EM PRÁTICA O QUE VOCÊS APRENDERAM.

Na verdade Paulo ecoa aqui o princípio ensinado pelo Senhor Jesus: “Ora, se sabeis estas cousas, bem aventurados sois se as praticardes”. João 13.17

O que fica evidente é que o conhecimento aumenta a responsabilidade. O que se espera daquele que tem conhecimento da verdade é que viva a verdade. Esta é a razão pela qual ele começa essa seção prática com um enfático: PORTANTO. Paulo está dando a igreja uma aula de como devemos ler as Escrituras. É nosso dever relacionar a doutrina com a vida, a fé com o modo de viver. Essa conexão é interrompida porque na mente de muitos cristãos a doutrina não tem relação com a vida. Há quem pense que é possível ser cristão mesmo não crendo nas doutrinas cristãs. Isso é trágico. É por essa razão que muitos vivem uma vida moral repreensível e empobrecida espiritualmente. Falta conhecimento de Deus e aplicação da verdade na vida prática.

A doutrina cristã sofre um processo de desvalorização com sérias conseqüências sobre a vida da igreja. Há muitas razões pelas quais isso se dá. Espero que Deus lhe ajude a fazer um criterioso auto-exame a fim de verificar se esse problema está presente em sua vida.

Por que a doutrina cristã é menosprezada impedindo sua conexão com a vida?
Vejamos algumas possíveis razões:

1) CONFUSÃO ENTRE DOUTRINA CRISTÃ E TRADIÇÃO HUMANA.

No domingo a maioria das igrejas celebra dois cultos, um pela manhã e outro a noite. Há igrejas que celebram um. Outras que têm três cultos no domingo. Não existe uma doutrina bíblica que estabeleça quantos cultos públicos a igreja deve realizar no domingo. Nós realizamos dois por tradição. O protestantismo não rejeitou todas as tradições da igreja. O que a Reforma resgatou e segue como um marca dos herdeiros da reforma é a supremacia da Escrituras sobre a tradição.

Os batistas são chamados de tradicionais porque mantêm suas tradições. O termo tradicional ganhou uma conotação pejorativa, mas não devemos nos envergonhar das nossas tradições e da nossa história como uma denominação cristã. O que devemos fazer é tomar cuidado para que jamais uma tradição usurpe a supremacia das Escrituras. As tradições devem ser preservadas desde que estejam em harmonia com as Escrituras.

Mas quero chamar atenção para o fato de muitas pessoas menosprezam a doutrina cristã porque ela é confundida com tradições adoecidas em total contradição com a Bíblia. As pessoas criam tradições, costumes e as apresentam como se fossem doutrinas bíblicas. Devemos reconhecer que em nome de Deus muitas pessoas tiveram a sua fé violentada.

Quando uma tradição entra em contradição com a Bíblia ele se transforma em heresia e, portanto, nociva à fé cristã.

"Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo". Cl 2.8

Paulo alerta os crentes para os perigos das falsas filosofias, mormente o Gnosticismo. Os falsos mestres procuravam os crentes, em particular os imaturos e os envolvia com falsas filosofias, que na verdade era tradição de homens. A palavra “enredar é sequestrar”. Há muita gente seqüestrada, raptada por um tradicionalismo morto que não tem nada de doutrina bíblica.

"Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das cousas que haviam de vir"; Vs 16

Paulo usa aqui o grande alerta. Em virtude de tudo aquilo que Cristo é e fez por nós, não devemos permitir que ninguém nos julgue pelas regras do legalismo. Há seitas que em nome da Bíblia estabelece um complicado e enfermo código de regras sobre as pessoas.

Na minha infância convive com um amigo chamado Júnior, ainda hoje afastado da fé cristã. Sua mãe era uma mulher que embora tivesse muito zelo, não tinha entendimento. Criou regras e pôs sobre os ombros de seus filhos uma tradição legalista que foi apresentada a eles como sendo “doutrina bíblica”. Seu ensino era uma tradição morta ensinada em uma igreja adoecida e sem nenhuma fundamentação bíblica. O resultado foi trágico. Até hoje para esse meu amigo igreja é sinônimo de uma instituição repressiva com um conjunto de regras coercitivas e absurdas. Infelizmente muitas pessoas não fazem a necessária distinção e acabam jogando o bebê junto com a água suja.

"Se morreste com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques naquilooutro, segundo os preceitos e doutrinas de homens? Pois que todas estas cousas, com o uso se destroem". Cl 2.20,21,22

Paulo condenou as falsas filosofias, o legalismo e agora condena o ascetismo, a crença de que podemos crescer espiritualmente abstendo-nos de coisas, flagelando o nosso corpo e mortificando-nos fisicamente. É triste constatar que essas tradições purulentas continuam fazendo muitas vítimas. Pessoas que são expostas a falsos ensinos como se fosse doutrina bíblica.

2) REAÇÃO NEGATIVA À APRESENTAÇÃO ESTÉRIL DAS DOUTRINAS CRISTÃS.

Não são poucos os que não demonstram nenhum interesse pela teologia cristã, entre outras razões, pelo fato de que essa apresentação sempre pareceu enfadonha, árida, sem conexão com a realidade.

É triste, mas acontece. Fico impressionado como uma pessoa pode falar da graça de Deus sem nenhum senso de maravilha e gratidão. Mas infelizmente é possível expor verdades gloriosas sem entusiasmo, sem graça e sem vida. Se a mensagem não custa nada ao pregador, não tem valor para a igreja. Se ela não fascina aquele que compartilha não poderá alcançar o coração de quem ouve.

“A vida do pregador deveria ser um instrumento magnético a atrair as pessoas para Cristo; mas é triste constatar que muitos pregadores afastam as pessoas de Cristo”. Spurgeon

Em um passado não tão distante, alguns cultos eram chamados de cultos de doutrina. A ênfase do culto era o ensino doutrinário. Não entro nem no mérito do que era ensinado, mas como era ensinado. Muitos cultos com essa legítima proposta de ensino prestavam um desserviço à medida que o modo de apresentar a verdade era deficiente.

Se não houver uma graça especial na comunicação, o risco que se corre é criar um contingente de pessoas que vão aberta ou sutilmente desprezar a doutrina cristã por julgá-la seca, estéril, sem vida e sem graça.

O apóstolo Paulo sabia que não apenas o conteúdo do ensino é importante, mas também a maneira de apresentá-lo. Aos Efésios ele fez um pedido de oração que todos os pregadores deveriam fazer:

“Orem também por mim, para que me seja dada, ao abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho” Efésios 6.19

3) ACEITAÇÃO DO DISCURSO PIEGAS DO SUBJETIVISMO RELIGIOSO:
“Fé é coisa do coração, o que vale é a prática.”


As pessoas dizem: “De que vale gastar meu tempo estudando a doutrina de Deus, o importante é amá-lo de todo nosso coração, servi-lo com alegria e adorá-lo em espírito e em verdade”. Isso tão bonito que fico até arrepiado, mas é completamente falso.

Isso porque o modo de pensar influência o modo de agir, na verdade determina. Essa observação muito bem elaborada por Francis Schaeefer é verdadeira. Você não pode amar e adorar a Deus sem conhecê-lo.

A fé cristã tem o seu elemento subjetivo, místico entre o indivíduo e Deus. Mas é fundamentalmente proposicional, cognitiva. Crer em Cristo está diretamente relacionado com a verdade. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”. João 17.17

O notável Dr. Martin Lloyd Jones sempre encorajava a sua igreja com as seguintes palavras: “É por meio da Palavra que somos santificados. “Portanto”, é a luz da doutrina que nós devemos viver a vida santificada. O processo de santificação é, primeiro e acima de tudo, uma plena compreensão das doutrinas bíblicas”. MLJ

O subjetivismo religioso prega: Chega de doutrina o que vale é a prática! Mas isso é perigoso porque traz implicações danosas. Um dos problemas é que a falta de interesse pela doutrina transforma a fé cristã em um simples sistema de conduta ética. Em tese o que importa não é o que se crê, mas como se vive. Não podemos negar que a fé cristã é, essencialmente, um modo de viver que glorifica a Deus, pois a vida cristã é novidade de vida conforme diz Paulo aos romanos. No entanto, a doutrina não pode ser esquecida. Uma vida moral exemplar sem o fundamento da doutrina é mera moralidade, e nesse sentido trata-se do pior inimigo do cristianismo.

Thomas Watson denunciou isso ao dizer: “Moralidade é nada mais do que a natureza refinada, é o velho Adão vestido com melhores roupas. Um homem moralizado não é nada mais do que um diabo manso. O refinamento moral não é nada mais do que uma coroa de flores sobre um defunto”.

O seu entendimento da verdade e a sua experiência de vida com Deus devem servir de estímulo e encorajamento para você viver uma vida santa e piedosa. Mas se há desprezo pela doutrina e uma tentativa isolada de viver uma vida correta, a pessoa está presa nas teias da moralidade que no final não terá nenhuma vantagem diante de Deus.

4) SUPERVALORIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA EM DETRIMENTO DA DOUTRINA.

A vida cristã implica em ter experiência com Deus. Àqueles que buscam a Deus em oração sabem do que eu estou falando. É certo que a vida cristã tem o seu aspecto místico. Quando oramos falamos com Deus, que é espírito invisível. Não o vejo, mas o Senhor é real e com Ele me relaciono por meio de Cristo e da Palavra. Temos experiência com Deus. Isso é maravilhoso.

É curioso notar que uma autêntica experiência com Deus tem sempre implicações sociais. C. S. Lewis disse a um crítico estudante: "Se você ler a história, descobrirá que os crentes que mais realizaram neste mundo foram exatamente aqueles que pensavam mais no mundo por vir” A pessoa que desfruta de comunhão e intimidade com Deus é bênção na vida de toda comunidade. Embora aconteçam tantos casos estranhos à fé cristã, ter experiência com Deus não é o mesmo que ser um fanático alienado que vive afastado da realidade em um mundo virtual.

O problema é muitos indivíduos, por uma conjugação de fatores, vive o todo tempo buscando experiências em detrimento da verdade. Essa demasiada inclinação mística já trouxe muitos prejuízos ao cristianismo. Através dos séculos muitas loucuras aconteceram por conta da supervalorização da experiência. Um dos males é a virtual saída do mundo. O isolamento é adubado pelo misticismo que cria uma subcultura cristã alienada e socialmente irresponsável. Agir assim é negar a vocação evangélica de ser luz do mundo e sal da terra.

A igreja é uma agência de transformação no mundo e quando ela cumpre seu chamado Deus é glorificado. Mas quando a experiência sobrepuja a verdade o coração se torna solo fértil para praga do fanatismo. É importante lembrar sempre que embora a linha que separa o fanatismo do fervor espiritual seja fina, ela existe. Muitos fogem do fervor com medo do fanatismo. Mas fervor não é o mesmo que fanatismo. Fanatismo é um fervor irracional e estúpido. É um entrechoque do coração com a mente.

O fanatismo é alimentado pelo misticismo, a crença que uma pessoa pode ter uma imediata experiência com o mundo espiritual, completamente à parte da Palavra de Deus e do Espírito Santo. Nos dias de Lutero, o gigante do protestantismo, era muito comum a busca de experiências em detrimento da verdade. Quanto a isso, Lutero se posicionou dizendo:

"Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir."

Esse perigo não é coisa do passado, nem é novidade. É algo antigo e presente. Paulo combateu esses místicos que desprezavam a Palavra. Os falsos mestres em Colossos tinham visões e faziam contato com anjos. Assim, eles abriam-se a si mesmos para toda sorte de atividades demoníacas, porque Satanás é um especialista em se transfigurar até em anjo de luz para enganar as pessoas (2 Co 11:13-15).

"Não permitam que ninguém que tenha prazer numa falsa humildade e na adoração de anjos os impeça de alcançar o prêmio. Tal pessoa conta detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhosa. Trata-se de alguém que não está unido à Cabeça, a partir da qual todo o corpo, sustentado e unido por seus ligamentos e juntas, efetua o crescimento dado por Deus". Cl 2.18-19

Os crentes não podem se envolver com cerimônias de misticismo, de rituais de iniciação para se achegarem a Deus ou se desenvolverem moral ou espiritualmente. Temos tudo em Cristo. Tentar chegar a Deus através de qualquer experiência ou pessoa que não por meio de Cristo é falsa humildade. É orgulho, pois é abandonar as Escrituras para seguir outro caminho que não o de Deus. Devemos nos posicionar com a mesma firmeza do reformador: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado mesmo que faça chover milagres todos os dias”.

5) DIVÓRCIO ENTRE A PALAVRA E O ESPÍRITO.

Há hoje, no cenário evangélico brasileiro dois modelos de espiritualidade cristã que se distanciam da proposta do evangelho porque separa a Palavra e o Espírito.

As igrejas históricas, de tradição e vínculo com o protestantismo histórico postulam um modelo de espiritualidade, essencialmente cognitivo, doutrinário. A ênfase está no conhecimento teológico, o que, por si só não é ruim. Mas, todo demasiado interesse na doutrina, no dogma transformou a teologia em uma coisa estéril, fria e morta. O escolaticismo protestante é uma triste realidade. A impressão que se têm quando se vai para esse extremo é que Deus é uma idéia, um conceito e não uma Pessoa com a qual podemos nos relacionar.

No extremo oposto, está o movimento pentecostal ou carismático que na verdade nasce como uma reação ao intelectualismo frio e ao racionalismo morto de algumas igrejas históricas. Mas o que se pode observa é que o modelo de espiritualidade cristã proposto pelo movimento pentecostal fica comprometido porque vai ao outro extremo.

O problema das igrejas históricas é o racionalismo morto e frio, onde Deus é apresentado como uma idéia, um conceito. No movimento carismático o risco é ceder ao emocionalismo, que é supremacia das emoções sobre a razão. Assim sendo, a experiência passa ser mais importante que doutrina. Deus é transformado em uma fonte de energia e poder com o qual eu me relaciono a fim de tirar alguma vantagem.

O movimento carismático julga deter o monopólio do Espírito. As igrejas históricas, o da Palavra. Ambos os modelos são deficientes, pois estão distantes da autêntica espiritualidade cristã. Não basta ter doutrina correta, a ortodoxia é insuficiente para suprir a nossa sede de Deus. De igual modo as experiências não são confiáveis se não passam pelo crivo das Escrituras.

Jonathan Edwards enfatizou bem a importância de se manter luz na mente e fogo no coração! Os puritanos, seguindo essa tradição se recusavam a aceitar o divórcio do conhecimento de Deus da experiência com Deus. No entendimento deles, a luz do entendimento estará sempre associada ao fogo do fervor espiritual e a presença desses dois elementos se revela nos afetos, no amor e na intimidade para com Deus.

Portanto, o divórcio entre o Espírito e a Palavra deve ser evitado. A orientação de John Stott, brilhante mestre da Igreja, é pertinente: “Nós precisamos ser uma Igreja fundamentada na Palavra e cheia do Espírito, pois ele age por meio dela. Devemos manter juntos a Palavra de Deus e o espírito de Deus. Isso porque, à parte do Espírito, a palavra está morta, ao passo que, à parte da Palavra o Espírito é desconhecido.” John Stott

CONCLUSÃO:

Faço a você amigo dois santos encorajamentos:

1) Conheça as doutrinas cristãs.
Mergulhe no conhecimento das Escrituras. Conhecer a Palavra e as doutrinas que dela fluem é maravilhoso.

2) Relacione sua fé com o seu modo de viver.
Não permita que haja divórcio entre o que você crê e como você vive.

A oração de Paulo em favor da igreja de Colossos é minha petição diante de Deus por sua Igreja.

“Por essa razão, desde o dia em que o ouvimos, não deixamos de orar por vocês e de pedir que sejam cheios do pleno conhecimento da vontade de Deus, com toda a sabedoria e entendimento espiritual. E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus e sendo fortalecidos com todo o poder, de acordo com a força da sua glória, para que tenham toda a perseverança e paciência com alegria, dando graças ao Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no reino da luz. Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção e, a saber, o perdão dos pecados”. Colossenses 1.9-14

Credo Ut Intelligam: a teologia cristã e seus parâmetros

Por Alderi Souza de Matos

Quem considera a história da teologia não pode deixar de impressionar-se. Além de extremamente longa, essa história é complexa e multifacetada, espelhando uma imensa diversidade de épocas, tradições, culturas, interesses e individualidades. Por mais que se deteste essa preocupação, a teologia é uma atividade não só inevitável como também imprescindível para os cristãos. Inevitável porque é próprio do ser humano refletir, questionar, interpretar, firmar posicionamentos. Imprescindível porque resulta da própria natureza da revelação. A fé cristã é algo cujo significado e implicações precisa ser considerado e reapropriado em cada nova geração.

Outra constatação importante é que todo cristão é um teólogo, mesmo sem o saber. A diferença é que alguns refletem sobre a fé de modo simplista, casual e aleatório, ao passo que outros, graças aos seus dotes intelectuais, preparo acadêmico e perspicácia, podem fazê-lo de modo mais rico, profundo e criativo. Como toda e qualquer atividade humana, a teologia padece de certas vicissitudes. Existe boa e má teologia. Por exemplo, houve épocas da história do cristianismo em que se buscou uma justificação teológica para a perseguição de dissidentes, a discriminação racial ou ações opressivas por parte do Estado.

Nos tempos pós-modernos atuais, a teologia tem atingido um alto grau de sofisticação intelectual e filosófica. Ao mesmo tempo, tem se tornado uma atividade fortemente individualista em que os teólogos parecem competir para ver quem será o mais radical, inovador e iconoclasta. Isso tem levado ao esfacelamento da teologia contemporânea, a ponto de, muitas vezes, tornar-se irreconhecível como teologia especificamente cristã. Para que seja considerada cristã, a teologia precisa manter-se dentro de certos parâmetros, ter em mente certos referenciais. Não se trata de impor uma camisa de força à tarefa teológica, mas de reconhecer que existem compromissos a manter.

1. O Deus trino
A centralidade de Deus na teologia parece óbvia, mas isso nem sempre ocorre. Ainda que etimologicamente a palavra “teologia” signifique um estudo ou discurso sobre Deus, existem muitas teologias nas quais o principal ponto de referência não é Deus, e sim outros interesses. Alguns autores têm se referido aos fundamentalistas como os “defensores de Deus”. Na realidade, Deus não necessita de defensores, mas qualquer teologia que pretenda ser cristã precisa ter um conceito elevado e correto de Deus, precisa compreender que o seu compromisso primordial é com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Caso contrário, como falar em teologia?

Nos últimos séculos tem surgido teologias que questionam a personalidade de Deus, sua transcendência ou imanência, sua onipotência, sua cognoscibilidade e até mesmo sua relevância ou necessidade (“teologia da morte de Deus”). Não se trata de reduzir toda a teologia a uma reflexão sobre Deus e nada mais, mas de reconhecer que toda reflexão teológica genuína deve começar com Deus como o fundamento último de toda a realidade e da fé cristã. Isso se faz necessário diante de correntes teológicas atuais, tanto à esquerda quanto à direita, cuja abordagem é inteiramente antropocêntrica, começando com as necessidades e desejos humanos para então elaborar um entendimento de Deus como aquele cuja função principal é satisfazer tais aspirações.

2. A revelação bíblica
O reformador João Calvino opinou que a teologia, para ser legítima, deve ater-se aos limites da revelação. Isso significa que ela não deve dizer mais – e nem menos – do que Deus revelou em sua Palavra. Ela é uma reflexão reverente sobre a revelação e não deve perder-se em especulações. Obviamente esse conceito se torna risível na perspectiva de muitas teologias dos últimos séculos, para as quais a revelação bíblica é apenas uma, e não necessariamente a mais importante, das fontes da teologia. A razão desse desprezo é que o próprio conceito de revelação especial tem sido questionado. Com isso a teologia se torna um esforço filosófico e especulativo que tem pouco contato com as genuínas raízes da fé e da espiritualidade cristã.

Um bom exemplo dessa ênfase foi a teologia deísta do século 18. Por causa do seu interesse exclusivo na religião natural ou racional, os deístas negavam grande parte do arcabouço doutrinário da fé cristã histórica. O cristianismo foi reduzido a um sistema de moralidade no qual não havia lugar para o culto, o testemunho e a vida comunitária. Valorizar a revelação não significa cair no biblicismo daqueles que diziam “a Bíblia, toda a Bíblia e nada senão a Bíblia é a religião dos protestantes”. Significa reconhecer que Deus fala aos seres humanos nas Escrituras como em nenhum outro lugar. Mesmo que se afirme que a revelação suprema de Deus é Jesus Cristo, a importância da Escritura permanece, porque somente por meio dela, e do testemunho do Espírito Santo a ela associado, Cristo pode ser conhecido.

3. A comunidade de fé
Uma das funções da teologia é servir a igreja, não no sentido de ser instrumento dessa ou daquela ideologia, mas com o propósito de animá-la em sua caminhada, despertá-la para dimensões esquecidas da revelação, adverti-la para que seja mais fiel ao evangelho de Cristo. Assim sendo, a teologia deve ser produzida no contexto da koinonia, da vivência comunitária cristã. O verdadeiro teólogo não é aquele se coloca do lado de fora e procura impor os seus conceitos pessoais e subjetivos, mas alguém que faz parte do povo de Deus, caminhando com ele, partilhando de suas lutas e esperanças.

Outro aspecto dessa dimensão coletiva reside no fato de que fazer teologia é também interagir com a igreja do passado, com o rico legado de séculos de reflexão bíblica e teológica. É lamentável quando os teólogos dialogam prioritariamente com pensadores e correntes intelectuais não-cristãos, e até mesmo anticristãos, buscando neles referenciais teóricos e inspiração para as suas reflexões, mas demonstrando limitado interesse pela revelação cristã e pela comunidade de fé. Embora os interesses da teologia não tenham de circunscrever-se exclusivamente ao âmbito da igreja, esse elemento nunca pode ser omitido.

4. O mundo ao redor
Finalmente, assim como acontece com Jesus Cristo e com o evangelho, a teologia deve ser encarnada e contextual, ou seja, comprometida com Deus, com a revelação e com o corpo de Cristo, mas também relevante para a comunidade humana mais ampla. Embora a condição humana seja essencialmente a mesma em todas as épocas, cada geração se defronta com desafios inéditos para a fé cristã. O que a teologia tem a dizer ao indivíduo moderno com suas angústias, perplexidades e dúvidas? O que dizer diante das afirmações cada vez mais ousadas da ciência? Diante das realidades do terrorismo, guerra e criminalidade, das desigualdades e opressões, da crise ecológica e de tantas outras questões da atualidade?

Todavia, a teologia tem de fazer escolhas. Sua relação com o mundo, a sociedade e a cultura precisa ter, ao mesmo tempo, um elemento de simpatia e de distanciamento crítico. Muitos teólogos, na ânsia de tornar a fé cristã palatável ao “homem moderno”, têm feito tamanhas concessões a ponto de descaracterizar por completo o evangelho. A busca de relevância e o desejo nobre de construir pontes não podem desconsiderar o fato de que o escândalo da cruz é inevitável no confronto entre a fé e o presente século. Daí a pertinência da conhecida ironia de H. Richard Niebuhr quanto a certas abordagens teológicas: “Um Deus sem ira levou um homem sem pecado a um reino sem julgamento por meio das ministrações de um Cristo sem uma cruz” (O reino de Deus na América, 1937).

Conclusão
Na metade da Idade Média viveu o grande teólogo Anselmo de Cantuária (1033-1109). No seu trabalho, ele se firmou em dois conceitos que se tornaram célebres na história do pensamento cristão: Credo ut intelligam (“creio para que possa entender”) e Fides quaerens intellectum (“a fé em busca de compreensão”). Com isso, Anselmo quis dizer que a tarefa da teologia é mostrar que crer é também pensar, ou seja, que não há uma dicotomia entre fé e reflexão intelectual. Ao mesmo tempo, ele destacou a prioridade da fé, do compromisso com Deus, no labor teológico. Para que seja genuinamente cristã, a teologia deve estar sempre consciente dos seus referenciais. Dentro dos limites impostos por eles, ainda haverá muito espaço para um pensamento fecundo, criativo e desafiador.

sábado, 5 de setembro de 2009

Até que ponto Deus quer que eu cuide do meu corpo físico?

P.: Ter uma vida nova em Cristo significa que eu deveria esperar ter, e me esforçar para ter, uma saúde física melhor? Até que ponto Deus quer que eu cuide do meu corpo físico?

Boa pergunta. Ele quer sim que você cuide do seu corpo físico. Alguns textos me vêm à mente.

Um deles é o que diz que nossos corpos são o templo do Espírito santo (1 Coríntios 6). E o contexto ali é o de não entregar seu corpo a uma prostituta. Mas a implicação é que nossos corpos são santos e reverentes.
Isso me impediu de fumar quando era adolescente! Realmente impediu! A instrução de minha mãe: "Filho, seu corpo é o templo do Espírito santo, e obter um câncer de pulmão por causa desse tipo de prazer não é tratar o Espírito Santo corretamente." Isso funcionou para mim! Ainda funciona.
"Isso me impediu de fumar quando era adolescente! Realmente impediu!"

Mas há outro texto que se aproxima ainda mais. Um pouco antes, naquele mesmo capítulo, ele não está lidando com prostitutas; ele está lidando com comida. O slogan em Corinto era (eu imagino que era um slogan em Corinto): "O estômago para a comida e comida para o estômago, e ambos serão destruídos no inferno". Isso está indicado pelo seu estilo docético de viver: "Coma tudo que você quiser. Não importa o que você come." E Paulo disse: "Afirmação verdadeira, mas eu não serei escravizado pelo que quer que seja!" E o contexto ali é comida.

A razão porque as pessoas não têm saúde é porque elas estão escravizadas. Elas estão escravizadas à preguiça e à comida. Assim elas comem demais e se exercitam muito pouco. E elas têm ataques do coração e contraem diabetes. E Deus considera que este é um problema espiritual.
Portanto, nós deveríamos nos esforçar espiritualmente. O que será que Paulo quis dizer quando disse: "eu não me deixarei dominar por nenhuma delas?" Ele quis dizer: "Cristo é meu mestre!"

E um terceiro texto que vem à mente é: "...o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e ..." O quê? "domínio próprio" - egkrateia (Gálatas 5:22-23).

"Portanto, devemos lutar contra qualquer coisa que prejudique nossa saúde. Se comer demais nos faz mal, lutemos contra isso por meio do Espírito."

E mais uma vez, predominantemente, o domínio próprio sexual está em vista; mas é a mesma coisa. A expressão "domínio próprio" não é, talvez, a melhor tradução, porque é , na verdade, um trabalho do Espírito santo.

Portanto, devemos lutar contra qualquer coisa que prejudique nossa saúde. Se comer demais nos faz mal, lutemos contra isso por meio do Espírito. Se a preguiça e a falta de exercício nos fazem mal, lutemos contra isso no poder do Espírito Santo. Ou seja, crendo nas promessas de Deus, orando ao Espírito Santo para que Ele venha, enchendo-se de força e coragem e negando a si mesmo.

Cristianismo é abnegação... por uma alegria mais elevada. E eu não desejo que o meu hedonismo cristão signifique que tudo é fácil. Não é. Praticamente nada que valha a pena fazer será fácil, até chegarmos ao céu. Então tudo será fácil.
Ele se preocupa com nossos corpos. Foi Ele que os deu para nós. Ele gostaria que eles fossem saudáveis e que durassem muito tempo, até que decida levá-los.
Por John Pipe.
Fonte: Extraído do site Desiring God
Tradução: Juliano Heyse

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

WILLIAM TYNDALE: REFORMADOR, TRADUTOR E MÁRTIR.

Nascido na Inglaterra em 1494 graduou-se ainda jovem na Universidade de Oxford em 1515. Aos 30 anos de idade fez uma promessa e determinou-se a cumpri-la até o fim de seus dias.

Para um sacerdote que queria pouco mais do que um lugar tranqüilo para traduzir a Bíblia, William Tyndale teve aventuras incomuns em sua vida. Ele foi caçado pela Europa por agentes secretos e foi pego enquanto imprimia secretamente o seu Novo Testamento em inglês. Ele foi mais tarde seqüestrado por um espião e morto como um herege quando tinha pouco mais de quarenta anos. E tudo isso por ter traduzido a Bíblia para o inglês.

Seus superiores católicos não aprovavam o projeto. Eles o associaram ao crescimento protestante, que ensinava que a Bíblia, não a Igreja, era a voz de Deus na terra. De fato, Tyndale estava alinhado com o movimento protestante. É possível observar nos comentários inseridos na sua Bíblia e também através das suas cartas, uma relação muito estreita com os princípios da Reforma Protestante. Ao contrário do Catolicismo, o Protestantismo sempre esteve, desde a sua gênese, ligado profundamente à tradução da Bíblia.

DE SACERDOTE A FUGITIVO

Apesar de educado em Oxford e Cambridge, e então, ordenado como um sacerdote, tudo que Tyndale queria era traduzir a Bíblia das línguas originais, hebraico e grego, para o inglês. Como um lingüista talentoso, ele parecia ser a pessoa certa para aquela tarefa. Ele dominava pelo menos sete línguas, incluindo as línguas bíblicas antigas.

Em 1523, em torno dos seus trinta anos, ele foi a Londres e pediu permissão do Bispo Cuthbert Tunstall para iniciar o trabalho de tradução. Essa atitude revela astúcia, porque o Bispo era um intelectual e amigo de Erasmo, o teólogo holandês que havia publicado a primeira edição grega do Novo Testamento e que escreveu no prefácio que desejava que a Bíblia fosse traduzida para todas as línguas. Tunstall, entretanto rejeitou o pedido de Tyndale, aparentemente temendo que uma Bíblia que o povo comum pudesse entender encorajaria o movimento da Reforma iniciado por Martinho Lutero, que levou Tyndale a concluir que “não somente não havia lugar na soberania do palácio de Londres para traduzir o Novo Testamento, mas também não havia lugar para fazê-lo em toda a Inglaterra”.

Com o patrocínio financeiro do seu amigo, Humphrey Munmouth, um rico vendedor de tecidos, Tyndale saiu da Inglaterra no ano seguinte para encontrar um lugar seguro para trabalhar. Ele nunca mais voltaria à Inglaterra. Ele mudou-se para Hamburgo, na Alemanha, e, em agosto de 1525, havia concluído a tradução do Novo Testamento grego de Erasmo para o inglês. Tyndale conseguiu um impressor em Colônia, mas o trabalho de impressão foi interrompido quando os oponentes do movimento protestante atacaram a tipografia. Tyndale, entretanto soube dos planos deles, salvou as páginas que já haviam sido impressas e escapou. Uma impressora na cidade de Worms, onde havia uma mentalidade mais favorável à Reforma, completou o trabalho, e as 6.000 cópias foram contrabandeadas para a Inglaterra em barris de farinha e em peças de tecido.

QUEIMANDO A BÍBLIA E O TRADUTOR

O Bispo Tunstall ficou horrizado quando descobriu a respeito das Bíblias. Ele ordenou que todas as cópias na sua Diocese fossem queimadas. Então, secretamente, planejou comprar todo o resto da produção de Tyndale. “Os livros são errados e maldosos”, ele disse a um vendedor que ele acreditava estar envolvido com Tyndale, “e eu tenho a intenção de destruir todos eles”. O vendedor estava, sim, envolvido, mas era um amigo do tradutor. Tyndale concordou em vender as Bíblias e usar o dinheiro para pagar por edições melhores, que ele publicou em 1534 e 1535

Por essa época, Tyndale estava bem encaminhado com uma tradução do Antigo Testamento. Ele completou os cinco primeiros livros da Bíblia, bem como Jonas, e os Livros de Josué a 2 Crônicas. Um de seus amigos, Miles Coverdale, concluiu a tradução do Velho Testamento, baseada na tradução de seu companheiro. Mas ele não viveu para vê-los impressos.

Tyndale passou a mudar-se constantemente para livrar-se de agentes ingleses e da Igreja enviados para prendê-lo. Enquanto vivia em Antuérpia, Tyndale foi enganado por um agente inglês que afirmava que era a fvaor do movimento protestante que começava a tomar forma. O agente convenceu Tyndale a dar uma caminhada pela cidade. Então, quando eles entraram num beco estreito, ele sinalizou para dois soldados que o esperavam. Eles pegaram Tyndale e o levaram para a prisão estadual próximo de Bruxelas, que ficava a 16 quilômetros de distância.

Em algum momento durante o ano e meio que Tyndale passou na prisão, ele escreveu uma carta que tem muita semelhança com uma das mensagens de Paulo a Timóteo e que dá a entender que ele ainda estava trabalhando na sua tradução do Antigo Testamento. Ela foi escrita em latim e enviada a uma autoridade cujo nome é desconhecido:

Eu imploro a vossa senhoria... que peça ao comissário que tenha a bondade de me enviar, dos meus bens que ele possui, um gorro mais quente, porque tenho sentido muito frio em minha cabeça... e também um casaco mais quente, porque o que tenho é muito fino; uma peça de tecido ainda para remendar as minhas calças... Mas, acima de tudo, eu imploro... para ter a Bíblia Hebraica, a gramática do hebraico e o dicionário do hebraico, para que eu possa passar o meu tempo estudando.

Tyndale foi julgado não somente por publicar o Novo Testamento em inglês, mas também por ter um pensamento semelhante ao de Lutero. Introduções e notas nas margens de sua Bíblia revelaram a sua teologia. Ele acreditava na salvação através da fé, não através da Igreja. Ele negava a existência do purgatório. Ele argumentava que a virgem Maria e os santos não intercediam por nós e que não deveríamos orar para eles.

Em agosto de 1536, Tyndale foi condenado como culpado de heresia. Dois meses depois ele foi acorrentado a uma estaca onde um executor publicamente o estrangulou com uma corda e, então, queimou o seu corpo. Suas últimas palavras foram: “Senhor, abra os olhos do Rei da Inglaterra”, e enquanto ele falava, o clima estava mudando na Inglaterra. O Rei Henrique VIII, que havia sido incapaz de assegurar a aprovação do Papa para divorciar-se de Catarina de Aragão, sua “vaca espanhola”, estava se afastando da Igreja Católica.

Um ano depois da morte de Tyndale, Bíblias que revelam forte influência do trabalho dele começaram a ser distribuídas na Inglaterra, com a aprovação do Rei. Na verdade, o trabalho de Tyndale foi a base para a tradução da maioria das traduções da Bíblia inglesa. O famoso biógrafo, David Daniell, estima que 83% do Novo Testamento na versão King James foram retirados da obra de Tyndale. Em dois anos, todas as paróquias foram encorajadas a ter uma cópia para o seu povo. E, dentro de cinco anos, as igrejas pagavam multas se não cumprissem a ordem.

“Se Deus poupar a minha vida por alguns anos, farei de tudo para que um menino que correr atrás do arado saiba mais da Bíblia do que vocês”.

William Tyndale falando ao clero.